São Paulo, 28 de janeiro de 2021
O especial Cova Medida mostra a que veio antes mesmo de ser publicado. Nos seis meses em que uma equipe de jornalistas mergulhou na história dos 31 assassinatos no campo no primeiro ano do governo Bolsonaro, entrevistando familiares e cobrando autoridades sobre o andamento das investigações, já geramos impacto: em pelo menos dois casos, prisões aconteceram por conta de questionamentos da Repórter Brasil – antes mesmo de as reportagens irem ao ar.
Queremos também tirar do silêncio essas histórias de brasileiros “anônimos”, cujas mortes deveriam ter a mesma repercussão do assassinato da missionária estadunidense Dorothy Stang (2005) ou do indígena Paulino Guajajara (2019). Mas não têm.
Queremos ainda sensibilizar o leitor para uma guerra que acontece no interior do Brasil. Uma guerra pela terra e por seus recursos naturais. O que acontece distante dos grandes centros urbanos, em algumas situações, não é um conflito. “É um massacre”, como bem traduz, em uma das nossas matérias, Matias Benno Rempel, integrante do Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
Isso se dá por conta das forças desiguais desses conflitos: de um lado, trabalhadores sem-terra, indígenas em defesa do território e ambientalistas. Do outro, fazendeiros, funcionários ou seguranças contratados por fazendeiros, madeireiros, grileiros e até políticos locais.
Neste especial, que contou com o trabalho de mais de 20 pessoas, apuramos que apenas um dos casos foi encerrado – e ainda assim, a “conclusão do crime" é questionada pelos familiares da vítima; que 61% das investigações ainda não saíram da polícia (mesmo passado um ano) e que alguns parentes sofrem ameaças e enfrentam dificuldades financeiras, além de encararem o luto e de esperarem ansiosos por justiça.
No Cova Medida, você poderá conhecer esta realidade a fundo, seja navegando pelos perfis dessas vítimas, lendo nossas reportagens ou escutando nosso podcast, que terá cinco episódios, publicados todas as quartas a partir de 3 de fevereiro.
Nos baseamos no relatório anual da Comissão Pastoral da Terra sobre os assassinatos em conflitos no campo, com atualização do andamento das investigações até o dia 20 de janeiro deste ano. Contamos, ainda, com o apoio do advogado Bruno Langeani, do Instituto Sou da Paz, que realizou a classificação do status da investigação de cada um dos crimes, considerando quatro fases das investigações: ainda na polícia (paradas ou em andamento), no Ministério Público, na Justiça e casos encerrados.
As ilustrações do especial foram baseadas em fotos reais das vítimas -- os casos sem fotos foram representados com punhos erguidos, um símbolo da luta pela terra ou pela defesa do território da maior parte dos mortos.
Marcio Rodrigues dos Reis, Rosane Silveira, Luis Ferreira da Costa são algumas das incontáveis vítimas que ‘desaparecem’ sob o ódio e a brutalidade. A Repórter Brasil tira essas histórias do anonimato – na esperança de que elas também saiam das estatísticas da impunidade brasileira.