Corumbiara, RO

Terra que sangra: fazenda palco do ‘massacre de Corumbiara’ deixa mais uma vítima, 25 anos depois

Por Pedro Sibahi

Mesmo latifúndio improdutivo em Rondônia que foi palco de massacre em 1995 fez mais uma vítima – desta vez, integrante da Liga dos Camponeses Pobres

Um latifúndio improdutivo em Corumbiara, em Rondônia, que em 1995 foi palco do primeiro grande massacre a trabalhadores rurais após a redemocratização brasileira, voltou a ser motivo de violência, 25 anos depois. Porém, ao contrário do que ficou conhecido como o ‘massacre de Corumbiara’ – que terminou com 12 mortos, 55 trabalhadores rurais feridos e torturados e outros 300 presos –, o assassinato do camponês Gustavo José Simoura, de 30 anos, em janeiro de 2019, está envolto em mistério. E as investigações estão paradas na Polícia Civil dois anos após o crime.

Gustavo era um dos moradores do Acampamento Manoel Ribeiro – criado em 2018 –, cujo nome faz homenagem a um dos assassinados no massacre. Ele fazia parte da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), uma organização campesina que surgiu na década de 1990 e que luta pela reforma agrária e pelo direito à terra.

Em dezembro de 2018, a LCP realizou uma ocupação na Fazenda ZC, que segundo o movimento, faz parte da Fazenda Santa Elina – palco do massacre de 1995. O movimento afirma que a Fazenda ZC, que possui mais de 2 mil hectares, foi grilada (teve documentos de propriedade falsificados) pelos fazendeiros Zerfeso Marangoni e Rosane Klosinski Baioto Marangoni, ambos de Vilhena (RO). A Repórter Brasil entrou em contato com o advogado dos Marangoni, Charlton Grabner, mas não obteve resposta.

Menos de um mês após o assassinato de Gustavo, no início de fevereiro de 2019, a polícia cumpriu a ordem judicial e despejou as famílias do acampamento.

Em 9 de janeiro, a Justiça do município de Cerejeiras expediu mandado de reintegração de posse em favor dos fazendeiros e contra as 50 famílias do acampamento. Gustavo foi assassinado dois dias depois. Seu corpo foi encontrado com uma perfuração por tiro de arma de fogo do lado direito do peito, a quilômetros do acampamento, às margens da via rural Linha 04, em Alto Guarajus, distrito de Corumbiara.

De acordo com informações publicadas no site Resistência Camponesa, ligado à LCP, “os acampados acreditam que ele foi assassinado por pistoleiros a mando de latifundiários da região, pois várias testemunhas afirmaram ter visto Gustavo ser parado na estrada por pessoas em uma caminhonete preta, horas antes de ser assassinado. Camponeses afirmaram ainda que um veículo com as mesmas características já foi visto na sede da Fazenda ZC”.

A Polícia Civil concluiu que o corpo foi encontrado em local de desova. Ou seja, o assassinato de Gustavo teria acontecido em outra área – ainda desconhecida dos investigadores. O delegado Mayckon Douglas Pereira, que preside o inquérito, disse à Repórter Brasil que os investigadores encontraram “entraves de ordem técnica” que dificultam a elucidação do crime. Pereira disse ainda que o local onde o corpo encontrado era ermo, que Gustavo não era da região e que os moradores desconhecem informações sobre o crime. Mesmo assim, o delegado afirma que “há diligências em andamento” que “ajudarão a concluir a investigação com apontamento da autoria”.

Para Pereira, não há qualquer elemento que aponte Gustavo como uma liderança rural. “Apesar de se ter informações que este possa de fato fazer parte do descrito movimento rural, mas não como liderança”. A reportagem tentou contato com a LCP, sem sucesso. Familiares de Gustavo foram localizados, mas preferiram não comentar.

Menos de um mês após o assassinato de Gustavo, no início de fevereiro de 2019, a polícia cumpriu a ordem judicial e despejou as famílias do acampamento.

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