"Desconfiei desde o começo. Viajamos de ônibus e de trem, sempre à noite. Imagino que era para ninguém ver. Ia olhando para o “Meladinho” e pensando: 'Eu fui vendido'. Ele olhava para nós, sorria, parecia que estava rindo da nossa cara. Na última vez que vi o “Meladinho”, ele estava colocando um maço de notas no bolso. Depois, falou que ia sair e voltava na sexta. Desapareceu.
A vida na (fazenda) Brasil Verde era sofrimento. A gente comia no tempo (a céu aberto). Quando chovia, dava menos gosto ainda, ficava tudo aguado. A fome dói, por isso digo que a comida de lá não era muito ruim. Era mandioca misturada com arroz, era bem difícil ter carne de gado. Tinha noite que nem isso tinha. Com dois dias de trabalho, Fabiano concordou comigo. Nunca falei o que vivi naquela fazenda para nenhum dos meus filhos."
Carlos Ferreira Lopes,