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Francisco Bastos


Era uma sepultura


“Fui criado no serviço pesado desde cedo, mas lá (fazenda Brasil verde) era pior. O trabalho começava cedo e terminava às 18h. A gente levava duas horas, à pé, para chegar no serviço.”

"O mato não era baixo, como tinham prometido. Era um juquirão (mato que cresce no campo) alto, coisa para trator fazer. O capim era maior que nós, e era tão quente que chegava a dar agonia. Um dos rapazes que estava com a gente fez a conta: cada um de nós ganhava R$0,75 por dia.

Tinha dias que o gato (fiscal) passava debochando. Falava que ali era onde o filho chorava e a mãe não ouvia. Eu ficava mais triste com isso. Um dia, roçando, vi um mato mais baixo. Era um morro de terra, sem verde, sabe? Não podia acreditar, então chamei os outros e perguntei que negócio era aquele ali. Era um tipo... (pausa). Um tipo não, era o que era: uma sepultura. Na mesma hora um gato (fiscal) veio passando e perguntou: 'e aí moçada, como é que tá?' Tomamos coragem para perguntar o que era aquilo. Ele disse que um gato (fiscal) que já trabalhou na fazenda discutiu com um trabalhador e acabou matando o cabra com três tiros. Então, os companheiros do morto enterraram o amigo ali. Nosso medo aumentou. Aquilo podia acontecer com qualquer um de nós."

Francisco das Chagas Bastos,
41 anos, trabalhador rural